Sábado fui almoçar fora!
Para quem não sabe, é a maior excentricidade, o último devaneio que me concedo, a maior luta que travo com a minha consciência.
Já passarei a explicar, ou então não valerá a pena, porque vai ficar escrito nas entrelinhas.
Há muitos e bons restaurantes e muitos e bons cozinheiros, mas raramente me permito sair da minha ostra e ir provar.
Tenho relatos de amigos, gente do métier, leio blogs de comida, ouço pessoas que têm, como eu, paixão por comida e vinhos.
Acompanho as modas e os restaurantes trendy, mas fico-me pelo meu laboratório, quase sempre.
Comi fora de casa durante mais de 25 anos, por isso agora concedo a maior parte do tempo ao lar e à família, mesmo tendo que cozinhar todos os dias, todas as refeições.
Como disse no início, Sábado fui almoçar fora, com amigos, gente bonita e do alto e a M´nina Reis (não fiques triste, a culpa não é tua!) , providenciou a reserva, sendo que a condição era ser Cozido à Portuguesa.
Escolheu-se o Painel de Alcântara, estava escolhido. É claro que depois da noiva casada, aparecem mais pretendentes, mas já lá vamos.
Há uma geração imensa de restaurantes com tendência para o pretencioso, mas que ninguém lhes diz que pararam no tempo.
O Painel é um desses, que parou no tempo e que fez carreira no arroz em argamassa, nos vinagretes aspergidos, nas cozeduras para lá do ponto.
Começando pela carta de vinhos, é nitidamente a filosofia dos anos 80, em que tinha que se ganhar a mesa toda na(s) garrafa(s) de vinho.
Margens de 400 e 500%, sem um serviço de vinhos exímio ou pelo menos cuidado, pois o que havia na mesa eram copos inapropriados, de 2 tamanhos diferentes. "Vinho da casa é Cartuxa, Pera Manca e por aí fora" foi-nos dito.
E com preços a começar nos 12€ a garrafa, para um Esteva, entregámos a alma ao criador, leia-se "é para a desgraça" e pedimos que trouxesse um qualquer a condizer com a ementa. Trouxeram Vinha das Servas, alentejano, filho de uma boa casa, gerida pela vinícola Serrano Mira. Veio também uma garrafa de branco, porque o Avelãs do Record, não gosta de tinto.
O cozido, em 4 partes, tal como foi servido, teve 75% de nota negativa.
O arroz com chouriço de sangue, se fosse servido a escorregar no caldo, com farrapinhos de couve e com o arroz al dente teria sido uma espectáculo. Estava cozido de mais e parecia os restos das outras travessas.
O feijão branco, também cozeu mais do que devia e não sabia a nada, nem sal tinha.
Os enchidos, percebia-se que outrora tinham sido bons, antes de os reservarem no forno ou em estufa,depois de cozidos. Absolutamente dispensáveis.
Finalmente, a travessa onde vinham os vegetais e as carnes. Tal como os enchidos, reservadas a quente pelos mesmos processos, ressequidas, pareciam mais fritas e de cozidas só tinham a base da confecção. Além de pobres em qualidade e quantidade. Uma fatia de entremeada, um corte seco de carne de vaca e um pezinho de porco, luzidias de gordura e um desconsolo para o palato.
Salvou-se o dia com as couves, nabos e cenouras, perfeitas de cozedura, sabor brutal, bem temperadas com as águas de cozer carnes e enchidos. Mas até a batata era uma desgraça nacional.
3 doses de cozido, 75 euros!!!
Veio ainda um tachinho com arroz de garoupa para a "nossa italianinha" que têm pena dos porquinhos que se matam para fazer cozido e segundo quem provou, estava cordato e conforme.
As sobremesas banais, meio decilitro de mousse de chocolate numa tacinha rasa de ixox e pudim, que ainda provocou mais uma alfinetada no serviço, porque ao cortarem uma fatia, ainda estava quente e então trouxeram para a mesa um pires de desmanchado de pudim, pelo qual cobrariam 3,50€
Resultado final - SETE convivas, 181€ de prejuízo e muita desilusão no ar. Sentimo-nos assaltados, ainda que com base legal.
Isto (sair para comer fora) depois de ter feito na ante véspera de Natal, mais de 200 km para ir jantar com a avó Lurdes, que fazia 90 anos, ao "melhor restaurante de Torres Novas" . Ainda bem que era o melhor, porque abaixo daquilo, deve ser ração para animais. Não fui eu que paguei a choruda conta, mas fui eu que gastei dessa gasolina caríssima que vendem nas ouro-lineiras, mas a causa merecia esse efeito e a Mme.Best também queria ver a avó já que não ia passar o Natal com ela.
Vou voltar para dentro da minha ostra, de onde só voltarei a sair, se não fôr eu a pagar a conta nem a gasolina. E acreditem, que isto já é um desporto muito radical, para mim.
Posto isto e os actos, quem não come, não precisa de pratos.
Hoje sem amor,
Joe Best
. Agenda DaCozinha AGOSTO d...
. Agenda DaCozinha JULHO de...
. Agenda DaCozinha JUNHO de...
. Agenda DaCozinha MAIO de ...
. Agenda DaCozinha ABRIL de...